Apaixonada. Pelo que faço.


Tenho medo do prazer que tenho ao trabalhar. Medo porque o que dá prazer a gente tende a buscar cada vez mais. E na busca de cada vez mais, nos excessos, é que tende a não dar certo.

Sou apaixonada pelo que faço. Me permito mesmo as paixões loucas pelas tarefas. Sempre me permiti. Até me flagelando por vezes, trabalhando dez, doze horas por dia. Mas sou uma eterna apaixonada, é minha forma de ser: me apaixono fácil, pelo que deve e por quem não deve. Faço por mim. Não pelo salário, não pelos chefes, não pelo outro. Visto a camisa, me entrego.

O tesão pelo trabalho está para as paixões loucas que acontecem por aí. Cada mínima conquista, devagarinho, as descobertas, as comemorações, as sensações, o desejo de mais.

Também não deixa de vir, claro, a insegurança repentina; a ocasional sensação de "não dá mais", as reflexões sobre a relação, sobre o futuro. A culpa, por não saber equilibrar as coisas. Principalmente quando o salário não paga as aspirações.

É de mim. Sou assim. Me apaixono.

Mas vale tudo isso pelas descobertas: estamos num mundo de errantes carentes e solitários que se enganam buscando os roupantes de paixão com vários, ou mudando de rumo e emprego a cada estação.

Vale a velha, sábia e boba piada: tudo passa, até uva passa. E paixão passa. É na longevidade, na paz e na maturação das relações, profissionais, que está o maior prazer, as maiores descobertas, a perenidade, a sustentabilidade.

É isso: a grande busca é pelas médias. A grande busca é pela paz.

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