Discussões do óbvio

Estou de fato bem cansada. O sintoma imediato: rouquidão aguda, afônica. Tem quem ache bonitinho, o que pra mim é um sofrimento.

As duas últimas semanas foram intensas: 4 viagens de trabalho, aeroporto, rodoviária, táxi, ônibus, só faltou jegue. Hoje, no dia que consegui parar pra chamar a faxineira - a novata, que já não é tão novata, tenho uns 5 minutos de irritação ao chegar em casa às 22:30 (trabalho, salão, supermercado) - momento raro.

Depois de aliviada a raiva, vêm as reflexões múltiplas.

Talvez nos outros dias eu não tivesse me atentado aos detalhes, mas hoje, que a minha grande felicidade seria chegar em casa e estar tudo organizado e limpinho, me deparo com "serviço mal feito". Me senti a chefe, mesmo fora do trabalho, postura que eu nunca tive com o pessoal que trabalha em casa.

Faltou zelo, cuidado, qualidade em tudo. Coisas bem básicas, como garantir todo o chão do "imenso" apartamento limpo ou jogar todos os sapatos (que não são poucos), indiscriminadamente e desorganizadamente num compartimento mínimo do armário.

A raiva já deu pra entender. A reflexão vem meio como um fechamento das duas semanas cheias de decisões e emoções e cheia de cansaço no trabalho: a qualidade no que se faz não está ligada apenas à educação, formação, treinamento, etc.

E: quando você apenas quer ganhar algum dinheiro pelo que está fazendo, não tem como sair um bom trabalho.

E mais: Mesmo cansado, quando você gosta do que faz, sabe a que veio, é recompensador.

A antiga faxineira não sabia ler nem escrever. Nem usava celular porque não sabia ao certo e vez ou outra chegava atrasada porque pegava o ônibus errado, não sabia ler o título lá. Essa nova tem 2° grau "completo", se expressa bem, enfim. A primeira, quando não sabia, perguntava. Queria sempre fazer mais, fazia pra mostrar e perguntava se tava bom. Ela fazia com gosto, comentava sobre os detalhes da feitura, se interessava pra entender a forma que eu gostava. Essa novata, sem muitos comentários, mostra claramente que quer o dinheiro da faxina de qualquer jeito e pronto.

"Mas quem pode gostar de ser faxineira nessa vida?" Alguém pode se perguntar. Aquela do vizinho, de quem você já ouviu falar bem, com certeza gosta.

"Não chama mais ela pra fazer sua faxina". Ok, pode ser. É imediatista, superficial e prático. Está decidido, assim será! Mas deveria ser? E as chances? Uma nova tentativa? E a responsabilidade e respeito pelo outro?

E aí é onde vale a pena pagar mais por quem merece, ou promover quem tem que ser promovido.

É aí onde entra auto conhecimento, saber o que quer, o que gosta, o que sente.

Aí onde entra que demitir alguém que "não dá mais" é justificável. Às vezes, você acaba tomando a decisão na vida do cara que ele próprio não tinha coragem de tomar.

Abri uma série de questões questionáveis e pouco paralelas, todas transversais, muitas, discussões do óbvio... Bem, a minha cabeça não pára nessa noite de sábado, apesar do sono e cansaço.

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