Ir sozinha na balada

Beach Park por Emilia Nobre


Bem, de fato essa deve ser competência apenas dos meninos. Aprendi, mas confesso que preferia não precisar ter aprendido.

Pra uma mulher, sair de casa para uma balada requer todo um investimento: maquiagem ($$), o melhor perfume ($$), escolher com cuidado a roupa (tempo e concentração), colocar sapato (desgaste físico), enfim. Não é apenas pegar a chave do carro e ir ver qual é, como é para os meninos: se for legal, fica, se estiver chato, vai embora. Sempre ao ir embora, tem a sensação de derrota por ter investido tudo aquilo lá e não ter sido legal.

Além disso, tem algumas superações pela frente, além do "investimento": descer do carro sozinha é mega dolorido. Você sente todos te olhando, o que de fato, algumas vezes, dependendo da concentração que você teve ao se arrumar, não é só um sentimento, é fato.

Vem o flanelinha! Ele te vê sozinha, então, ele vai torrar a paciência de alguma forma. Ou dobra o valor ou cobra antes ou vai te fazer sentir ameaçada por ele, deixando no ar: ou você me paga o que eu tô pedindo ou não vai ser bom pra você.

Bilheteria, fila, expectativa ao entrar. O sentimento de todos te olhando não passa e com certeza nessa hora ninguém já não sabe nem que você existe. Quando você não conhece o lugar, a agonia demora um pouco mais. Tem sempre aquele lugar melhor pra ficar, mas você não faz idéia de qual seja.

A necessidade do bar fica latente, afinal, se não tem para onde olhar, onde ficar e com quem falar, é bom beber. O que já deixa claro que se você não quer beber ao sair sozinha, é melhor nem sair. Eu tenho a minha marca de cervejas, sei o limite. Daí há todo um estudo de oportunidade: nunca vou pagar pra entrar numa festa cara sozinha. Porque o prazo das cervejas é de no máximo 1h e meia. Ou seja, se você não conseguir se entreter nesse tempo, pronto! É dada a hora de parar de beber: ou fica lá de mãos abanando ou vai pra casa. Ou chuta o balde e enche a cara. É aí onde entra a análise de custo benefício da balada.

O próximo problema são os caras. É uma constante: eles vão se aproximar. Por mais que você busque um lugar escondidinho pra ficar, eles vão te achar. Porque seriam um problema? Bem, a minha experiência mostra que são sempre caras mala que vão primeiramente te procurar. Dificilmente um homem mais sensato vai chegar logo de cara, em menos de 1h, numa mulher que está misteriosamente sozinha tomando uma cerveja. Os malas são aqueles cara de auto-estima alta (aqueles que tiram a camisa em show de axé), no sense e cara de pau.

Para essas situações, mesmo que você seja essencialmente simpática, tipo, sem querer, você é simpática, melhor exercitar ser chata. Prometo que todas as vezes que eu quis ser eu mesma, os da auto-estima-alta passaram do limite e me apressaram em ir embora. Afinal, eles além de no sense, costumam ter nível entendimento reduzido e nível de percepção baixo.

Quando perceber a chegada de um desses caras, finja que está ao telefone. Costuma funcionar. É, tem mesmo que ser meio artista pra sair sozinha. Mentir aqui não será pecado.

Pode ser legal se for na sua cidade ou se você conhecer bastante gente na cidade. Você sempre vai encontrar um conhecido e aí a noite tá ganha.

Nessas vivências, me enchi de preconceitos, de fato. Mas o preconceito surgiu de uma sequência de repetições da mesma situação. Hoje, me arrumei toda, fiz todo o investimento lá. Na primeira barreira - o flanelinha, dei pra trás.

Não falei no começo, mas requer também muita coragem, vontade e disposição. Humildade também, de se submeter a tudo isso. Eu não estava num dia nada corajoso, não havia vontade. E faltava mesmo a humildade: eu não preciso passar por isso, definitivamente.

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