Pequenas pressões


A minha geração é de gente esquisita. E as próximas que estão surgindo, nem sei como denominar. Pessoas sem limites, que não sabem mais discernir o que é certo do que é errado.

Trabalho com uma equipe um pouco mais novas que eu. O papel de colocar as rédeas neles é meu. Não deveria ser tão difícil, porque muitas vezes o que eu preciso exigir deles é: disciplina, equilíbrio emocional e discernimento sobre o certo e errado.

Confesso que cobrar dessa nossa geração equilíbrio emocional não é uma tarefa fácil. Disciplina, apesar de ser conceitualmente simples, pra um povo sem limites, também não é. Mas nada como tentar explicar para uma geração corrompida os conceitos de "certo" e "errado".

Pra quem tem um certo conforto financeiro, talvez seja fácil entender as diferenças entre o certo e o errado. Até porque as ocasiões tentadoras aparecem menos. Mas pra quem tem um salário curto e fixo (ou nem esse), todos os meses, e tem um mundo inteiro de consumo, pulsando ao seu redor, o desafio é maior. Exigir do brasileiro, que veio ao mundo quase sempre já sem nenhum planejamento familiar, que seja organizado e planejado financeiramente o bastante para ser feliz com o que tem, é até um contra senso.

Junta uma pitada de "ambição por pequenas coisas", outra de "necessidade de afirmação", um pouco de "imaturidade" com um tanto de "jeitinho brasileiro", está feita a bomba dos dias atuais.

Alguém tem um benefício que é pessoal e instranferível. Pra muitos, não há problema transferir o benefício a vários. E assim, segue uma lista de pequenas coisas possíveis, que se duvidar, nos confunde também: é certo ou errado? Porque é errado?



  • Estourar o limite do cartão de crédito e não pagar a fatura nunca mais.

  • Tirar a multa do seu carro no Detran, dando um jeitinho.

  • Conhecer alguém que vai fazer você passar na prova de habilitação.

  • Pedir o cartão do amigo emprestado e não pagar a conta.

  • Praticar táticas ilícitas ou ocultas para usar o celular por mais tempo.

  • Comprar Cartão presente de uma certa loja por valores mais baratos e não se importar de saber de onde veio aquela "facilidade".

  • Fingir que está trabalhando quando não está.

  • Comprar coisas que não sabe de onde veio só porque tá barato.

  • Comprar DVD pirata e achar bacana.

  • Pegar o cartão do pai, mãe ou parentes e usar sem avisar.

  • Empurrar um produto goela a baixo num cliente só para "bater a meta".

  • Pegar dinheiro que "está ali" para si, mesmo sabendo quem pode ter esquecido.

  • Aproveitar da displicência de um desconhecido e "ganhar" o celular novo dele.

  • Ficar de bico calado quando percebe que o troco está para mais.

  • Ver alguém fazer o que não é certo e se omitir.

  • Não achar ruim se foi uma peça a mais na sacola, mesmo que não pague.

  • Incitar o erro de alguém e beneficiar-se com isso.

  • (...)

Ontem vi no shopping um senhor devolver ao segurança um cartão de crédito esquecido no caixa eletrônico. Fiquei me perguntando quantas pessoas fariam aquilo hoje em dia.

Acho que qualquer um nesse Brasil se vê aderindo aos jeitinhos vez ou outra. Sem demagogias. Mas tem sempre os jeitinhos menos lícitos e os mais lícitos. E infelizmente o que vejo é que pessoas próximas, por pequenas pressões fúteis, estão se corrompendo e sequer se dão conta disso.

A velha máxima "a ocasião faz o ladrão" se transformou em "não deixe a oportunidade passar".

Comentários

  1. Acho que algumas coisas escritas no seu texto estão completamente corretas e concordo...mas outras penso que são completamente equivocadas e um tanto quanto de discurso burguês. Ninguém é obrigado a se conformar por ter menos e seguir as regras de um patrão capitalista que só quer lucro. Porque "ficar do lado" de uma empresa só porque ela paga teu salário? Esse salário por acaso é justo? Não há aí uma exploração? Isso de ficar achando que as pessoas devem se conformar com o que tem, regular cartão...não sei, mas vejo nisso um determinismo social preocupante...
    São só apontamentos para uma melhor reflexão.

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  2. ôo, eu adoro quando assinam... :(

    Mas bem, reli o texto e vi as más construções que te levaram a conclusão de que eu falava dos "funcionários" ou da relação "empresa x empregado".

    Não era esse o foco. O problema nem está neles, apesar das citações àquele léxico. Mas não vou reescrever o texto para tentar ser mais clara. Não faria sentido.

    Você tem toda razão: o texto tá com ar burguês mesmo, ruim, para o sentido que eu queria dar, mas enfim... outro dia eu tento ser mais clara.

    Sobre as empresas?! O modelo de exploração tá fracassado, não emplaca mais nos dias atuais. Claro, ainda tem empresa que parou na Revolução Industrial, mas... o mercado já deu uma atualizada nisso, viu?! Alivie-se.

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