Tudo perdido


Véspera de Natal, shopping lotado, loja lotada. Criança até a canela. De todos os tipos, tamanhos, formatos e educação. É fácil ver as figurinhas escolhendo as suas próprias roupas; desfilando pra lá e pra cá; puxando os pais pelo braço pra fazerem o que querem.


Gritam, correm, brincam de esconde-esconde embaixo das araras. Choram e fazem escândalo, são simpáticas, mal educadas - dão o dedo, falam palavrão, precisam levar bronca pra aquietar. E se perdem dos pais. Tenso. Ou curioso.


Já craque no ofício de domá-las, nesse momento de instabilidade emocional, tenho o maior prazer de interagir com a galerinha.


"A tia não vai sair de perto de você até a mamãe chegar, tá bom?"

"Como é o seu nome? E o nome da mamãe?"


No último caso, encontrei o Gabriel perdido, correndo dentro da loja, gritando, chamando pela mãe. Um funcionário correndo atrás e chamando por mim: "Fábia, me ajuda! Você tem mais habilidade!"


O fato é que o Gabriel, no auge da sua sabedoria de máximos cinco anos, cansado de esperar pela mãe que estaria por vir, concluiu que se ele não saísse para procurá-la, ela não chegaria. Menino de atitude.


E entre berros, choro e gritos por eu tentar contê-lo, saiu o questionamento sincero: "Titia, você tá mentindo? Cadê a mamãe?"


Lindo. Deu vontade de levar pra casa. A mãe, pouco tava preocupada - olhou pra mim quando a encontramos e deu o veredito: "Ah, mas é filho de pobre, num precisa se preocupar não."


Hã?


Levanta, queixo!


Bem, como acalmar uma criança perdida dos pais? Como fazê-la confiar de que você não é do mal e pode ajudá-lo? Como fazer uma criança de 2 anos dizer o seu nome e o da mãe ao se perder?Como acalmar uma mãe que perde o filho num shopping em véspera de Natal? Até que ponto podemos culpar os pais num momento como esse? Até que ponto determinados pais se preocupam com os filhos que colocam no mundo? Quantos de nós não se perdeu dos pais um dia quando era criança?


E filho de pobre?


O negócio é rezar pra eles serem inteligentes como o Gabriel para sobreviverem às mães que têm.

Comentários

  1. eu perdi o Matheus com 2 anos no Iguatemi e te digo em uma só palavra a sensação: de-ses-pe-ro. sorte que o pequeno era esperto, sabia dizer o próprio nome e o dos pais. Foram 10 min de tensão que pareceram séculos...

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