No limits


Nas últimas férias, no meu louco vício por revistas, li uma matéria em alguma semanal sobre uma pesquisa dessas que os gringos fazem pra provar tudo no mundo. Podem até questionar o método, mas o resultado no mínimo me pareceu lógico, ou convincente.

Dizia que as mães que trabalham, que se culpam por não ter tempo pra criar seus filhos, conseguem criá-los melhor para os dias de hoje. Algo sobre qualidade e quantidade de tempo. Ter muito tempo para criar os filhos não significa necessariamente reservar a eles o melhor de si ou a interação mais intensa. Se o tempo for menor, a qualidade da interação mães-filhos será maior e a criança crescerá mais independente. etc etc etc. Passei a distribuir essa matéria a todas as pessoas que eu achava que deveriam ler. Depois eu acho o link.


Bem, mas essa minha nova relação com uma criança, não apenas aquela dos outros que dá vontade de apertar na rua, mas uma criança sua, tá me queimando os miolos. As crianças das nossas vidas hoje são muito poucas e elas acabam, no pouco tempo que temos pra elas, recebendo muito. Podem crescer mimadas e sem qualquer desejo ou sonho.
A impressão que dá é que elas terão tudo. Nesses dias em que se compra o mundo em 10x sem juros, não haverá uma Barbie sequer que a minha sobrinha queira ter e não possa ter. E isso pode tornar a criança problemática, ou abestalhada, ou rasa. Ó céus!

Quando eu penso nisso, eu me proibo de comprar toda a coleção de roupas para bebês maravilhosa que eu tenho na loja. Ela terá todas as roupas? Meu Deus, nem vou deixar a coitada decidir se quer mesmo ser uma perua tão cedo! E se ela for desse tipo que não gosta de muito fru-fru? Quando ela descobrirá isso se eu vou estar a postos para atrapalhá-la?

E se hoje ela já tiver toda a coleção do HarryPotter? Significa que eu estou doente da cabeça ou que ela poderá ser? A minha ansiedade em fazê-la gente logo vai se refletir nela como?

Outro dia, num salão de beleza, fiz amizade com uma criaturinha de 4 anos. Enquanto eu fazia a unha (ou tentava), ela falava pelos cotovelos me apresentando o seu laptop da Barbie, e comentando todos os artistas das revistas. Ela resolveu me pentear, borrou minha unha 3 vezes, derrubou a bandeja de esmaltes, me fez brincar em todos os jogos do laptop, me fez entrar numa disputa de quem termina primeiro o penteado: ela ou a cabeleireira. E eu lá, achando tudo lindo, fofo e engraçadinho.

Depois, me veio a crise existencial: a menina me fez de boneco de posto por 2 horas, quebrou os esmaltes, atrapalhou o trabalho da coitada da manicure, deixou meu cabelo uma zona, com direito a spray secativo de unha e tudo, e eu achando bonitinho. Totalmente sem limites. Nem a mãe nunca deu nem eu fui capaz de dar ali, naquele momento. E olhe que não era "minha". Nem cara feia eu fiz.

A pequena criatura foi embora e me deixou um aleijão: o que será das crianças de hoje em dia? Como será esse mundo nolimites que elas nos reservam ou que estamos construindo através delas? O que vamos fazer pra evitar tudo isso?

Danou-se.

Comentários

  1. Passo pela mesma crise existencial nos últimos tempos, ao observar com mais atenção crianças 'alheias', enquanto carrego na barriga o primeiro filho, com muitas dúvidas sobre 'como' vou educá-lo.
    Af...é difícil! Viva e verá!Abraços.

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