O limite do querer bem

Chega tempo que você quer tanto bem, tanto bem, que esse sentimento começa a fazer mal a você e ao outro. Porque parece não existir querer bem sem o sentimento de proteção. Sem intervenção na vida do outro. Sem deixar de opinar sobre o que se acha certo e errado pra o outro. E parece que não somos capazes de deixar as pessoas que a gente gosta tomar suas próprias decisões e viver sua própria vida.

Por vezes damos o pitaco de que aquele trabalho não é pra ele, aquelas companhias, aquelas manias, aquele namorado, aquelas atitudes ou posturas. Mas o outro, o dono das decisões e de sua própria vida, não está a fim de ouvir o que você acha. Ou mesmo, até quer ouvir e até ouve, mas não está preparado pra internalizar isso ou mesmo quer fazer da sua forma, sob o seu ponto de vista. Ou, precisa ir lá e errar pra saber.

A visão de quem tá de fora é apenas a visão de quem tá de fora; nem sempre a mais útil para quem está de dentro. Porque nada se faz quando não se quer de fato fazer. Dificilmente seguimos conselhos; quase nunca seguimos os mais maduros e mais experientes.

Esse querer-bem descabido, desastrado, inocente, acaba amizades, distancia pessoas que se gostam de verdade. Mas como seguir sem ele? Como ver o outro se jogar pelo precipício e não fazer nada? Onde fica a linha tênue do limite da intervenção? Ou da omissão?

Amigo é realmente o que fala a verdade? Ou é aquele que se omite, mas te aponta o ombro depois que você quebra a cara, sem dizer “bem que eu avisei?!” ou “quem avisa amigo é”.

Como encontrar a dosagem certa?

Passei a entender porque nosso familiares diretos querem tanto dar conta da nossa vida. E porque nos irritam tanto. E porque é tão chato ouvir o que eles sugerem. O fato é que quando você é família não existe rompimento, fica mais fácil intervir, dar palpite, dizer o que é certo e errado de qualquer jeito. No outro dia, qualquer coisa que se diga e que se discuta, continuaremos sendo irmãos, pais e filhos.

Por esses desafios de dosagem de até onde intervir é que é tão difícil seguir com uma amizade pra vida toda. Pra continuar sendo amigo, definitivamente, não basta o bem querer.