Amor a primeira vista



Avião lotado. Conexão e escala até chegar ao destino final. O corpo e a mente cansados. A revista me fez dormir. Na decida da última escala, acordo de supetão assustada, sonhando que alguém, ao descer para o seu destino, levara meu laptop, guardado no compartimento de bagagens acima.

Levanto apreensiva como se o sonho fosse real. Esbarro subitamente num passageiro no corredor, enquanto buscava sua poltrona. Os olhares se cruzam, o dele, assustado, o meu, amassado de sono e envergonhado de toda a bagunça provocada. Peço desculpas. E tento consertar apontando, sem saber como explicar e falar, para o compartimento de bagagens.

A idéia era pedir a ele, alguns muitos centímetros mais alto, se avistava a bolsa preta com o computador ali. Ele não entendeu, eu não soube explicar. E ficamos ali, trocando olhares desastrados, por alguns segundos, até eu dar uma gargalhada, pedir desculpas mais uma vez e conseguir explicar o que estava acontecendo.

Tudo normalizado, alarme onírico falso, sento na minha poltrona, 19A. Ele, na 20A, logo atrás. Consigo escutar os movimentos dele ali atrás.
Me pergunto ao mesmo tempo em silêncio: pra onde ele vai, de onde ele vem. Quem é?

Ele conversa com o passageiro ao lado e responde tudo, como que ouvindo minhas perguntas: estou indo pra Brasília, sou de Goiania, estou de férias, passei uma semana em Natal. Adorei Pipa. Estava buscando uns ventos, mas o tempo não ajudou. Pratico kitesurf.

Penso em como ele foi educado. Em como foi paciente, delicado e gentil. Gratuitamente. Em como era lindo, no olhar e, certamente, em todo o resto - já não havia dúvida.

Penso em como é realmente possível amar a primeira vista.
Logo, penso em como é difícil viver um amor platônico.
Desço em meu destino, antes de chegar Brasília. Olho pra trás antes de descer, o livro o fez dormir.
Por último, penso como amar pode ser efêmero.

Comentários

Postagens mais visitadas