Uma história de amor e o taxímetro

Entro no taxi, R$ 5,75 no taxímetro e já a frase de impacto:

- Tem hora que dá vontade de parar e tomar uma dose.
- E é? Mas é por tristeza ou alegria?
- Alegria!
- Então pára. É importante celebrar.

Surge então um som aconchegante no rádio: Waldick Soriano. Relaxei e me senti em casa; na casa dele. Curti a música em silêncio. O percurso não seria tão curto, eu teria tempo de me deixar envolver naquele clima. O silêncio é interrompido:

- Eu só me apaixonei uma vez na vida... e to apaixonado por ela até hoje.
- Hummm... é Waldick?
- Sim. Quer que eu mude? Tem de tudo aqui: Amado Bastista, Roberto Carlos, Altemar Dutra (e mais uns dois)....
- Não!! Não faça isso! Gosto dele.... E o senhor casou com seu grande amor?

Aos 54 anos, esguio, pele escura, cabelos grisalhos, numa corrida de taxi, dentre as muitas que ele deve fazer todo ida, Seu Joselito me sorteou ou escolher para contar toda a sua história de vida. Uma linda e múltipla história de amor.

A amada tinha 16, ele, 18. Namoraram um ano até que, numa festa de batizado de dois dias, que começou numa noite e terminou no outro dia - entre sábado e domingo - ele não pode ir no domingo e ela se apaixonou por outro.

Na segunda, pós batizado, devolveu a foto que tinha dele. E não explicou nada. Começou a namorar o outro.

Ele sofreu um monte, "sem parar". Virou mecânico, depois policial. Hoje, taxista. E ele guarda detalhes de como ela era maravilhosa.

Casou com outra 2 anos depois, sem estar apaixonado. E sem culpa.

Procurou por seu grande amor algumas vezes, mas sem coragem de se aproximar. Ficava só olhando de longe, admirando o que ela fazia. Na última busca, soube que ela tinha ido embora pra Irará. Ele acha -  casada com o amor do batizado. "E Irará é muito grande, difícil encontrar ela lá." Deixando claro que pensou e arquitetou a idéia de procurá-la por lá também.

Hoje, ele tem seis filhos, um de cada mulher, por quem ele nunca foi apaixonado. Filhos que ele fez questão de criar, "já que elas não sabiam criar os meninos". Filhos que já estão grandes, já lhe deram seis netos e com quem ele fala todo dia a noite pelo "bate papo na internet".

Ele mora sozinho. E do Waldick ele adora a música "Dama de Vermelho"... lhe faz lembrar Marilyn Monroe e seu vestido esvoaçante. Ele tem uns 40 filmes em casa, mas esse filme da loira ele já procurou pra ter mas nunca achou.

- Porque eu lembro dela, se o vestido dela é branco?
- Vai ver por causa do batom vermelho!
- É mesmo. É o batom....

"Essa dama já me pertenceu
E o culpado fui eu da separação.
Hoje eu choro de ciúme,
Ciúme até do perfume
Que ela deixa no salão."

Dentre as convicções, a la Vinicius: sexo, só por amor, nem que seja por uma noite. "As vezes eu até me engraço, mas elas querem dinheiro. E assim eu não quero. Só se tiver amor."

Eu? Estava lá, atenta, auditiva. Receptiva ao novo tempo, novos amigos, novas paisagens. Me permitindo o novo. De velho, só a grande paixão de Joselito. Porque ela é eterna.

Comentários

  1. Essa loraa escreve mto bem! Me senti no taxi do Joselito..kkkkk

    Bjos, saudades! Mari

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas