Natal
Um cliente pediu minha ajuda na área pra comprar um presente pra uma criança. Ela mora num orfanato e ele queria dar a ela de tudo um pouco, do melhor que houvesse. As palavras dele é que ela “era muito precisada” e ele podia e queria ajudar.
Ao invés de uma calcinha, ele comprou o kit com 4, ao invés de um shortinho, uma calça jeans bacana “pra ficar pra vida toda”. A sandália, uma que “ela possa usar bastante”... e assim ele foi comprando e comprando... Tudo que ele precisava e pensava em comprar, a numeração sempre dava certo e tinha ou aparecia, as peças iam se combinando de uma forma fácil e descomplicada. Era a energia e bondade dele ali, provendo toda aquela compra, que percorria a loja toda – lingerie, acessório, roupa completa, calçados...
Ele não entendia nada de meninas e pouco de roupa, sapatos, etc. Era um senhorzinho, sem a esposa – que estava vijando. Ele se sentia inseguro e meio incapaz de achar tudo o que precisava, a “esposa ajudaria nisso”. Mas como ela não estava, ele “não deixaria uma criança sem presente”. Era de uma sensibilidade incrível.
O meu trabalho é cansativo, é desgastante, dói os pés, tem dia que dói a alma, mas o charme, o pózinho de pirilimpimpim, a magia toda se concretiza quando você encontra um cliente desses - um papai Noel, perdido na multidão, que é capaz de se concentrar num próximo, mesmo desconhecido, e se dedica ao máximo em fazer a esse próximo o bem.
Trabalho rodeada de pessoas enormes, exemplares. Cada qual da sua forma, muitos são um pouco Papai Noel em suas lojas e trabalho. Eu convivo com pessoas que são um pouco Papai Noel o ano inteiro, não só no Natal.
É uma correria trabalhar no comércio nessa época. Alguns de nós não tem tempo de montar a árvore, ligar o pisca pisca, desejar os votos a quem ama, comprar algum presente ou a roupa bonita pra de noite. Mas a gente sabe a capacidade que temos de retribuir os gestos de Natal o ano inteiro entre a gente e os nossos próximos.
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