Vergonha alheia
Anna Cunha
Sempre achei estranho o povo comer naquela padaria na hora do almoço. Muita gente, pouco espaço e aquela comida baiana com cara de muitas calorias reunidas.
Mas, caí na tal padaria na hora da comida ser posta nas cubas e não resisti a cara do strogonoff de frango. A fome bateu e, porque não aventurar-me?
- Ooooiiii, minha linda! Tenho tido notícias suas através da Zuleide. - já foi ela se justificando por qualquer coisa.
E prosseguiu no diálogo, que eu não ouvi, obviamente, mas fiquei a decifrar. Pelo que entendi, do outro lado, a mulher precisava de ajuda pra conseguir algo na repartição pública que a senhora trabalhada.
- Mas eu tô de licença-prêmio e só não vou lá com você hoje porque marquei hora no salão.
A outra falava sobre a greve da polícia e o medo de ir a "cidade" nesse clima de insegurança e arrastão que tava.
- Mas entregue na mão de Deus, minha linda. Num vai nada acontecer... só a fé mesmo pra nos proteger. Você pega um Zona Azul, estaciona fácil e vai ser rapidinho.
E papo vai, papo vem, tem estacionamento, não tem, fica aberto até que horas, a outra precisava pra hoje e "minha linda" pra lá e prá cá, num baianês puxadíssimo; "tenho prazer em ajudar", só não vou por isso e aquilo, "mas vá que com certeza se resolve" e amor, e querida e minha linda, inha, e tenha fé que só Deus está por nós.
Desligada a ligação,a senhora olha pra mim e dispara:
- Quando precisa, num instante liga, né?
Eu, fiquei com vergonha-alheia.
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