Monólogo


E foram fazer o B.O. na delegacia de roubos e furtos de veículos.

- Não entendo porque você andava com esse documento na carteira.
Resmungos dele. Ela denovo:
- Num tá vendo... eu que digo que tem que levar o mínimo possível de coisas?
Ele respondeu qualquer coisa.
- E pra quê tanto cartão? Quais cartões que o bandido levou?
- Aqueles tudim...
- Aposto que tava distraído... do jeito que te conheço... E como conheço! Num muda nada!
Um olhar de desdém...
- Cartão a gente só tem um, num é, moço? Fala aí pra ele... vai ver o senhor que é polícia, ele escuta...
Ela pausa para respirar. Silêncio. E:
- Eu num já te falei que cartão sem chip num presta? Imagina agora a trabalheira?!
E ela sem pausa:
- Você não é mais um rapaz novo, não... precisa entender isso!

Etc etc etc

Sabe-se lá o que o marido tentava argumentar. De que importava? Ela era a dona da razão, da palavra, da ordem e vez. Perguntava, respondia, comentava a pergunta e a resposta. O senhorzinho de idade, franzino, era vítima duplamente - do assalto e da esposa, a senhorinha franzina cheia de energia. E que energia!

O policial, gentil, participava sorrindo, ouvindo. Balançava a cabeça, tentava amenizar. Ali, ele, que de tudo via dentro daquela delegacia, era platéia sensível, observadora, solidária e educada.

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