"Como os nossos pais"


Ele talvez não tivesse acostumado com aquilo.
Parecia impressionado com tudo, com a liberdade, com as possibilidades.
Com aquela torre alta de 1,50m, bem mais alta que ele, que estava no auge de seus... 80, 90cm?!.
Não mais que isso!

Mas a fome, de devorador veroz.
Pela prova, pelo colorido, pela vida doce da prateleira de guloseimas do supermercado naquela tarde.

Os pais estavam longe, não tão longe, mas não tão perto a ponto de impedi-lo.
E ele pegava uma de cada. Duas de cada.
Várias de várias.
Deixava cair e pegava denovo e tentava segurar todas.
E olhava as outras e queria mais. E falava qualquer coisa com elas e olhava os pais ali perto, meio que de costas, distraídos num papo qualquer.

E ele era livre! Era livre!
Não sabia por quanto tempo.
Não sabia a que custo. Não sabia de que forma.
Não sabia como carregar aquela liberdade toda.
Colorida. E doce.
Mas ele era livre! Por um instante.
E por instante, era tudo que ele queria.
E era tudo que ele tentaria carregar ao mesmo tempo.

Até que os pais o avistaram. Riram dele.
Propuseram uma escolha. Apenas de uma.

E se foi a liberdade. Ou a expectativa rasa de uma liberdade irreal.
Espaçosa, ansiosa, efêmera.
E impossível.
Se foram as guloseimas todas da criança.
Ficou aquela colorida, a mais colorida, e doce, que a criança escolheu.
Apenas.

E ele a levou pra casa.
Feliz.

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