Porteiro de músicas

Foto de Cadu Primola

Ele era o porteiro.

- Boa noite, dona.
- Como vai a senhora?
- Quer que eu ajude a carregar as coisas?
- Chegou coisa pra senhora!

Cada dia um novo cumprimento. E um sorriso e um carisma e da forma certa, na medida certeira.

Mesmo assim eu achava estranho tamanha cortesia. Seriam merecedores todos os condôminos? Ou eu seria privilegiada?

- Tá chegando cedo, hoje...
- Tá tudo bem com a senhora?
- Sua alegria contagia. - aqui, ruborizo.

E sempre um sorriso largo e uma serventia pouco típica. Até que... o interfone toca quando eu entro no apartamento:

- Dona Fábia, me desculpa aí... mas que música era aquela que tocava no seu carro quando a senhora entrou?

E eu me derreti toda. Tudo aquilo era sensibilidade, só isso. E eu, cheia de entraves, é que não havia ainda reparado. Mas ele já tinha me reparado.

O porteiro virou o senhor sensível que gostava de música. E gostava de gente. E ia com a minha cara.

E eu, a que baixava o volume da música pra ouvir o seu "boa noite" toda vez.

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