Jane

Trocamos poucas palavras. Seguia- se o ritual da dona de casa.

Fui na portaria resolver qualquer coisa com o porteiro e deixei ela sozinha por um tempo no apartamento. Uns dez minutos sozinha... E na volta ela me recebe:

- Você é uma pessoa muito sensível! - fala de supetão e de forma quase eufórica.

Encabulei. Silenciei. Engasguei:

- Sensível?
- Sim. Você não perdeu a pureza.

Pensei: pureza?

- Você é muito forte, não existe mais mulher assim.

Ainda engasgada, entendi melhor. Ela falava das minha casa, das minhas cores, das minhas coisas. Ela falava dos bonecos espalhados, dos detalhes. Ela falava das frases escritas, enfim.

E eu consegui dizer apenas:

- É. Eu gosto dessas coisinhas - meio em duvida se deveria mesmo gostar, se deveria mesmo ser "forte", "pura", "sensível" e "rara".

Era um julgamento implícito ou apenas um tom exclamativo? Elogioso? Era apenas ela ali falando ou um recorte de um todo que fala?
Eram aquelas palavras mesmo as melhor aplicadas? Quais poderiam substitui-las?

Quanta sensibilidade de alguém tão simples?
Quanta espontaneidade!
Quanta densidade pro meu dia, de onde eu menos esperava!

Essa é a Jane, minha nova faxineira.

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