Chuveiro


Eu estava chegando no condomínio novo e o certo mesmo seria buscar ajuda com o eletricista do próprio condomínio. Era cômodo.

Comprei um chuveirão, o mais caro da loja, cheio de funções que nem eu mesma sabia pra que tanto serviam. Mas me garantiram banho bom, quente, relaxante. E além de sabonetes, hidratantes, toalha boa, uma coisa que priorizo, é minha água quente.

Ele cobrou caro pra instalar, eu não quis aceitar, fui firme, não pagaria aquele preço. Discutimos a relação, ele voltou atrás, barateou e me conquistou como cliente. Serviço feito, no dia seguinte, o chuveiro já não funciona como prometido.

Lá vem Seu Carlos resolver. Resolvido, funcionou pouco mais de um mês. E deu problema denovo.

Ele veio uma vez, não achou o problema. Veio outra, demorou, definiu que era defeito de fábrica, o produto tinha problema, não era a instalação.

Chateada, queria entender os detalhes do problema, pedi ajuda, falei da importância da água quente. Ele era monossilábico. Mal sabia explicar o que estava acontecendo.

De quebra galho, comprei um chuveiro novo, desses baratinhos, que não me dariam o banho perfeito, mas me daria a água quente temporária, até o novo chegar. Ele instalou e também não funcionou. Pedi ajuda, falei denovo da importância da água quente pra mim. Ele prometeu ajudar.

E eu pedi ajuda um dia. Ele me deixou esperando e não veio. Pedi outro dia. Ele novamente me deixou esperando e não veio.

Eu queria mesmo e muito que desse certo com ele. Tentei, tentei, falei com jeitinho. Resolvi explicar mais uma vez, ser humilde, falar o quanto ele faria diferença, o quanto sem ele eu não seria nada na resolução do caso do chuveiro.

Eu estava nas mão do Seu Carlos. Percebi isso. Eu desejava a água quente e só ele poderia resolvê-la. E eu não sabia mais como conquistá-lo.

Até que pedi uma última vez: eu sou muito ocupada, preciso muito da sua ajuda, já investi um monte, já esperei tantas vezes por você, te ofereço o que precisar, resolve pra mim o problema do chuveiro?!

Ele não veio denovo. Ele sabia que eu estaria ali esperando por ele.

Foi aí que então, pensei: ficar sem água quente que tanto desejo e preciso, ou abrir mão do Seu Carlos?

Resolvi olhar além do condomínio. E procurar outro eletricista. Alguém com quem eu começaria tudo denovo. Explicaria tudo denovo, investiria tudo denovo, abriria minha casa ao novo, contaria tudo e escutaria tudo o que ele tivesse a dizer.

O Seu Carlos? Logo logo sentiu a minha decisão: no dia seguinte, veio manso, se desculpou, tentou explicar porque de tanta desatenção. Prometeu que resolveria depois. Eu ouvi o que ele tinha a dizer: está desculpado!

Eu já tinha tomado a decisão: estava em busca de novo eletricista. Meu olhar já estava além do condomínio. E eu encontraria quem me desse a água quente que eu precisava.

Não dá pra confiar em quem não cumpre com a expectativa que levanta. Não dá pra continuar com quem não te dá a atenção que você precisa. Não dá pra aceitar desculpas de dia seguinte quando você precisa de presença ali, naquela hora.

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