Medo do tempo



Quando olhei ao meu redor, eu estava cercada delas. Mulheres de idade entre trinta e quarenta e cinco. Vestiam roupas da moda, roupas jovens, bem jovens, exibiam suas pernas, seios e o que tinham para mostrar. Estavam lá no salão de beleza aguardando a vez para se embelezar mais: unha, escova e sei lá mais o quê.

Eu percebia as varizes nas pernas de uma, as gorduras da outra. O silicone de uma terceira. A pele já não tão viçosa de outra.

E eu tive medo do que vi. Medo de estar ali em breve.

Me agredia um pouco o excesso delas em busca da juventude. Me agrediam os assuntos delas, o que elas falavam ao telefone e entre elas. Me agredia aquele estilo de vida, sei lá. Me agredia a clareza de que eu também estava ali, naquela faixa etária, ou quase nela, ou tanto faz, também me embelezando. Era também aquele o meu estilo de vida?

Estava eu também buscando manter a tal da juventude? Por isso o recente cuidado com a pele, o cabelo? Por isso o interesse por tratamentos de beleza e exercícios físicos?

E em que momento eu havia deixado de ser jovem? E não seria assim que elas também se sentiam? Jovens?

Tive medo de envelhecer. Pela primeira vez veio o medo do tempo.

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