O simples

Padaria domingo às 9 da manhã. As quinze mesas ocupadas com família, crianças, casais, carrinho de bebê, enfim. Os cachorros estavam lá fora só porque era proibido animais.

Na mesa ao lado, uma senhora bem idosa sentada sozinha aguardava a filha, que se servia no balcão. Ela comia devagar, levava o pão a boca com dificuldade pelo Parkinson.

A garçonete trazia os pedidos de café e chamava "comanda 5", "comanda 70", "comanda 10"e ia distribuindo os pedidos de forma rápida. Era a vez da comanda 11. Ela chamou uma, duas, três vezes. Na terceira ficou claro pra mim que o café era da senhorinha. Fiquei a observar. A moça chamou pela comanda 11 umas 15 vezes. Chamou de uma forma, de outra, mudou a entonação, falou mais alto, rodou todo o salão, gritou mais alto ainda. Chegou a incomodar quem estava comendo. E não apareceu o dono do café com leite.

Ela devolveu o café pro balcão e, mais tarde, quando a filha da senhorinha voltou a mesa para acompanhar a mãe, perguntou pelo café "que não havia chegado ainda".

Quantas vezes a gente usa métodos complexos pra resolver questões simples. A gente grita uma, duas, quinze vezes, grita forte, grita mais alto, grita para todos ouvirem, sobe na mesa, cria formas mirabolantes e intensas quando é no simples que se resolve.

O simples: perceber que eram apenas quinze mesas e que todas, exceto a senhorinha, concentrada no desafio de levar o pão a boca, estavam com seus cafés servidos; que apenas aquela senhora poderia não estar ouvindo.

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