A poesia que vejo em cozinhar

Tenho aprendido a cozinhar. Não é de agora, não é recente. Faz mais ou menos um ano que tenho me aventurado. Foram passando várias fases: a de achar que tenho que cozinhar pra não morrer de fome, a de entender que a sujeira que faz não pode tomar dimensão a ponto de desistir; que a falta de espaço não deve ser desmotivador; que é a única forma de comer saudável sem ficar pobre. Estou na fase que consegue olhar pra essas chateações  e entender que elas compensam.
A cozinha ensina. Ela é criativa, ela é uma descoberta a cada passo. Ela pode ser terapêutica sim (ainda não to nessa fase) e ela pode ser ferramenta de identidade. Afinal o que pode te definir mais do que aquilo que você come? Ou aquilo que você prepara para servir? E se serve a si mesmo, então?!
Eu tenho aprendido mais sobre mim, sobre o que sinto, sobre meu corpo, sobre minhas prioridades. Mas o que mais tem me despertado atenção ultimamente é o fantástico efeito de servir, de oferecer ao outro, de querer dar o seu melhor, de aguardar o retorno. Tal qual talvez o artista de teatro que já sabe como mexeu com o outro no instante seguinte de sua atuação.
Tenho poucas oportunidades de servir e acredito que nesse momento é melhor assim: servir a mim mesma, satisfazer meus olhos, meu olfato e meu paladar e aos poucos ir me tornando segura no exercício para o próximo - um exercício altruísta, solidário, de total empatia, que me apetece, me atrai. Porque de que vale estar tão pronto pra si mesmo apenas? Os prazeres melhor se concretizam no plural, é como eu acredito.

Comentários

Postagens mais visitadas