Bandeiras asteadas

Páscoa. Dieta de restrição a chocolates. Um dos meus funcionários mais gratos me chega com uma caixa grande de Ferreiro Rocher. Preciso entrar na realidade dele e preciso fazer festa. Preciso comemorar, agradecer. Quanto custa o chocolate dentro do orçamento dele? Quanto ele se empenhou pra fazer esse carinho? Quanto ele é grande e um ser lindo e evoluído por ser grato e ter iniciativa em representar isso? Não! Não havia como não fazer festa!

Fico imaginando se eu publicizasse o não-chocolatismo considerando a lactose, o açúcar, o gluten e o escambau? Que constrangimento seria pra mim, pra ele, pra quem tivesse por perto?

O exercício da influência requer empatia. Não há como influenciar para mudança sem antes se aproximar, ir sondando, compartilhar de coisas juntos, colocar-se humilde e participante, viver o ambiente e universo do outro e depois mediar "o novo". E tudo isso pode não valer se não for acionado o gatilho da confiança e respaldo no outro.

Vejo tantas bandeiras asteadas no mundo virtual e fico pensando quanto desperdício de energia ou mesmo quanta influência-contrária pode estar em jogo se não houver essa aproximação bem definida.

Quão admirado e respeitado você é ou quão enfadonho você pode passar a ser quando se repete o tempo todo em um mesmo assunto? Quando se restringe, multiplica uma restrição?

Quão mais isolado das maiorias quando se aproxima tanto das minorias? E o que é melhor: o maior ou o menor? Quão mais restritivo você se torna quando vai gerando diferenciação em relação ao que a maioria faz? Quão alienado você viverá se radicalmente não compartilhar do universo do outro que são tantos?

Não falo de ser um brincolê de influências, mas de diminuir o discurso radical.

O discurso sim, pode aproximar, mas se gratuito e massificado, para todos, pode afastar. Fale com o confidente, o padre, o médico, o conjuge. Mas quantos estão perdendo colegas, amigos e convivências por suas bandeiras políticas, sociais e de life-style? Quantos convites a tal qualquer blogueira fit pode estar deixando de receber pra comer aquela maravilhosa feijoada brasileiríssima?
Quantos amigos não vegetarianos estão temendo convidar uma tal pessoa para o queijos-e-vinhos em sua casa pensando ..." E ele come queijos?"

Não dá pra mim! Eu vivo rodeada de gente. E gosto disso. E quero isso. E acho que ser-humano é isso. Escuto histórias, vivo realidades múltiplas, vivo a influenciar, o exercício real da influência, e nao conseguiria viver o radicalismo, nem astear bandeiras firmes. E temo bastante por quem o faz.

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