Mais uma - história de amor

Me apaixonei. Pela pessoa errada. Tipo a música clichê de pagode. Agora to sofrendo por gostar de alguém que tem medo de gostar de verdade de alguém. Ou que não goste simplesmente de mim o bastante, na verdade. E apenas.

Eu não estive errado: enquanto tivemos juntos foi intenso, intenso como tem sido a saudade desses dias de fim.

E nem parecia tão forte quando a gente tava junto. Era tão certo que nem parecia tão forte. Parecia tão seguro e tão impossível de ser diferente, que eu nem tinha dimensão. Nem parecia novo. Nem parecia tão quente. Nem parecia rompante. Parecia ser parte de um todo. Era seguro, tranquilo, cheio de doçura, conforto e paz.

Mas agora que acabou é que é claro como paz ocupa espaço. Como ela acha a sua forma de caber por entre o turbilhão de coisas. E talvez fique claro como a paz é necessária.

A gente se conheceu em uma hora de voo. Um voo de tantos como esse nos últimos anos. Surpreendente. Ela sentou ao meu lado. Um erro de marcação de assento. Bonito de contar. Um papo que não tinha fim. Uma coisa que puxava outra coisa, que puxava outra, que puxava um tudo. Uma intimidade repentina e quase inevitável. Um testar-pra-ver-no-que-dá. E ver mais um pouco. Porque testar era bom. E com ela dava sempre certo. Um estar-a-vontade-pra-sorrir sem parar. O improvável e um outro. E outro. Tantos improváveis repetidos que parecia até ser permitido. Parecia até que tinha de ser mesmo. Como não? Porque não? Tão fácil que nem parecia impossível. Mas era pra ela. Que não queria se envolver. Que não se enxergaria ali por muito tempo. Que nao se permitiria ir mais longe. Pra ela que fugia da paz. Que era só minha.

Hoje é quente só de lembrar. É intenso quando anoitece e é tórrida a possibilidade de qualquer coisa. É desconfortável e árida a lembrança. Uma falta de paz que enfada, que cansa. Um quê-porquê-praquê que não descansa. Mas o fim, enfim: uma história bonita de contar. De ter vivido. De aguardar que seja esquecida. Como toda história que não se permite ser vivida.