Biscoitos

Chegamos juntas, lado a lado, uma vindo de cada canto, à beira do balcão do café. Ela, silenciosa. Eu, já falando e rindo, perguntava já de longe, pelo olhar, se hoje tinha biscoito.

Era a hora do café. O corriqueiro café pós almoço, quase sempre na mesma hora. As meninas são ótimas, já me conhecem, sabem o que quero e sabem que eu adoro o biscoitinho que acompanha e que faz toda diferença no amargo do expresso sem açúcar.

Por centímetros, ela havia chegado antes. Por decibéis, eu havia chegado antes. Dei espaço pra ela fazer seu pedido, afinal, eu me sentia de casa, podia esperar, e queria mesmo era papear sobre o biscoito que nao tinha no dia anterior e que eu queria dois hoje, pra compensar.

Ela se chateou. Comigo. Com a minha alegria biscoitina, com meu contágio, com a forma solícita e cheias de sorrisos que as meninas me receberam desde que me avistaram de longe. Ela encabulou-se por sua aura triste e por sua necessidade, que chegou centímetros antes, mas foi abafada por minha pequena alegria espaçosa de saber que "sim", havia hoje biscoitos.

Lhe dei a vez. Cedi a sua antipatia ou tristeza. Disse que ficasse a vontade, eu iria me sentar na mesa e ser atendida lá. E tentei nao observa-la mais para evitar constrangimento. Claramente ela não estava bem. E tudo que conseguiu dizer às atendentes do café quando saí foi:

- Definitivamente eu nao deveria ter saído de casa hoje. Hoje não é o meu dia. - E saiu chateada ou irritada com todas nós. E nao teve o prazer de provar do biscoito.

Dizem as atendentes nao terem entendido nada. "O que fizemos de errado?". Talvez não tenham feito nada. Talvez tenham feito. Sabe-se lá!

Cada qual seguiu seu rumo. E eu comi meus dois biscoitos. Torci pra que um biscoito melhor ela pudesse provar pra adoçar o dia.

Comentários

Postagens mais visitadas