Nem um batom?

Dia a dia. Rotina.

Trabalho em equipe.

Atendimento ao público.

Metas a bater.

Processos a seguir.

Método, organização, disciplina.

Diálogo com uma colega de trabalho:

- Porque  essa carinha? O que aconteceu? Cadê o sorriso? Nem um batom?

- Hoje não tô bem. Nem pra passar batom. O dia não tá legal... Me deixe!

Vem sempre um engasgo por alguns segundos. Pensamentos múltiplos me passam.... Uma sensação de...

"Isso é tão elementar! Eu não queria precisar falar do óbvio com ela"

"Mas fala! Que as palavras tem poder, os gestos tem poder, o visual tem poder, o sorriso tem poder! Importe-se com isso!" e...

"Devo meter na vida do outro? Devo sugerir que ela olhe por outro ângulo?",

"Cabe a mim papo motivacional com alguém? Quem sou eu pra isso?"

"Funciona mesmo esse negócio de palavras de motivação?"

"Quem não teve um dia ruim, atire a primeira pedra! Deixa ela! Finge que não reparou!"

Em fração de segundos, tudo isso passa pela cabeça.

Infelizmente o elementar, o óbvio, não é óbvio o quanto parece. Infelizmente ainda tem pessoas que se entregam ao "dia ruim" e a um, e depois outro, e outro. E vão levando.

Infelizmente ainda há ao nosso redor quem "não passe o batom" pra justamente ser percebida.

Infelizmente há quem precise de alguém que lhe arranque um sorriso por dizer um tanto de palavras de ânimo e motivação.

Infelizmente ainda uma palavra que vem de fora pode ser elixir pra aliviar a falta das palavras certas que deveriam vir de dentro. E que bom, então.

Infelizmente preciso sim dizer a ela que são nos dias difíceis que o batom precisa vir mais forte, mais bonito. Que o sorriso vai ter que vir forçado se for preciso e que a mente não pode se entregar e deixar que o dia seja mesmo ruim como projeta ser. Somos protagonista do nosso dia, etc etc etc.

E, felizmente, há quem aceite quem "se mete" em sua vida e há quem, na verdade, precise de tudo isso.