A cura

4o dia de isolamento

Há uns 7 ou 8 anos, na terapia, a psicóloga (maravilhosa!) me perguntou se eu já tinha alguma vez parado, ficado sem fazer nada. Não entendi direito a pergunta, o motivo do não-entendimento já era por si só a resposta - NÃO.

E tentei parar. E não consegui. Por anos após ali, tentei e não consegui. Me desafiei a meditar. Não era fácil. Percebi nas tentativas que era necessário. Esse já foi o grande resultado: acho que se perceber sempre é o maior resultado. Todo o resto vem em consequência.

O fato é que muita coisa aconteceu depois daquela pergunta. Muitas tentativas frustradas de parar. Tive muitos insucessos tentando meditar ou mesmo só parar sem o celular (já pode ser considerada uma forte forma de meditação rs).

Esse percurso todo me veio a mente agora, com tudo o que estamos vivendo, porque é como se eu conseguisse ver da arquibancada o efeito de toda uma sociedade que não consegue parar.

Em minutos da orientação de isolamento, já havia e-book pra tudo que você imaginar. "Aproveite seu tempo! Curta o momento!" Já tinha live a todo instante, conselhos pra todo lado.

Todos no automático. Todos ainda batendo cabeça e reproduzindo piadas, enviando correntes, organizando manifestações em janelas. Muitos criando conteúdo. Empresas criando agendas como se o mundo não fosse mudar drasticamente e as motivações idem. Objetivos de hoje não farão mais sentido em alguns dias.

Me incluo nisso. O impulso que vem é de seguir no baile. Parei algumas vezes desde o dia 19. Tanto porque hoje medito com mais fluência e o fiz algumas vezes, quanto porque parei diante de papel e caneta e organizei a mente (nossa vilã de estimação): quais são meus impulsos? meus medos? meus incômodos? como organizo a vida, a rotina? quem são as pessoas que amo? onde e como elas estão? o que posso fazer de fato? qual minha rede de influência?

Não parei ainda tantas vezes suficiente. Ao meu entorno, a maioria segue no automático. Tá evidente qual a nossa real deficiência social. Tá evidente a real doença que precisamos curar.

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