Tempo de voltar a escrever

1o dia de Isolamento - escrito em 19 de março de 2020

Ontem amanheci com uma ligação dizendo “Fabia, a pessoa x, (que ficou por algumas horas com vc em sua casa), foi agora pro hospital com todos os sintomas”.

Na noite anterior eu tinha visto as coletivas do MS, estudei informações nas fontes, tinha ido dormir tranquila mesmo sabendo que a previsão é de centenas de milhares de mortos em nosso país. Falei centenas de milhares. Exatamente. Dormi “tranquila” pq prefiro sempre a realidade e tenho percebido que pra não gerar pânico, as comunicações oficiais tem sido bem eufêmicas.

Mas quando o vírus “chega” na gente, muda de cena. Me senti privilegiada de ter vivido esse alerta alguns dias antes do que a maioria vai viver. Serviu pra eu refletir mais sobre minha parte na cena.

Mais tarde, a tal pessoa com quem tive contato teve seu diagnóstico: infecção bacteriana. E eu segui mais aliviada e me sentindo mais responsável por fazer a minha parte daqui pra frente e ser um pouco mais pragmática: o que posso fazer na prática.

Tirei o relógio, cortei as unhas, pensei nas frutas, bebi agua, muita água. Revi os meus hábitos de imunidade, pensei nos chás que preciso tomar, revisei os materiais de limpeza.

Pensei em como ajudar. Lembrei q moro sozinha e tenho um quarto e banheiro a mais e tem gente q mora com 5,6 pessoas.

To vendo um tanto de conteúdo de pessoas encontrando familiares em almoços e jantares (e publicando) e me vem a mente que a primeira coisa que pensei qdo fui avisada q eu podia estar c o vírus foi “com quem da minha família eu estive ontem?” e veja só: eu almocei com a Doia 🤷🏼‍♀🤦🏼‍♀  Passamos 40 minutos juntas e eu me senti péssima, culpada por isso.

To vendo um monte de gente já no otimismo, focando no que vamos fazer em quarentena dentro de casa. E aí lembrei de algumas serumaninhos com zero informação que tive q explicar algumas coisas durante o dia de ontem.

Não sei se já é chegada a hora dos discursos tãaaao otimistas. Me parece mais a hora de falar de ação e sobre como nos adaptarmos e fazer a informação chegar na periferia, nos mais pobres e desinformados.

To vendo gente falando do Bolsonaro. Inclusive pessoas públicas. Não sei se é hora de considera-lo tanto. (Mesmo ele sendo o presidente). Me parece que nosso impulso político será útil jajá, mas não exatamente agora. Agora, o que precisamos é que o Executivo mande o pedido e o Legislativo aprove a calamidade pública pra dar velocidade aos gastos necessários em saúde.

E nós precisamos primeiro controlar onde colocamos a mão (novos hábitos) pra depois pensar no Bozo.

Já me veio a cabeça que a maior parte dos políticos de Brasília são idosos ... e é nos idosos que a doença é fatal. Não sei se o foco é nessa bipolaridade política agora.

To vendo uma preocupação grande com a recessão econômica. Uma preocupação justa. Cuidemos dessa preocupação enquanto ainda tivermos cabeça pra esse tema. E que esteja claro que quanto mais pararmos as atividades produtivas , menor será o colapso econômico.

A cena é grave mas não mais que a da quantidade de infectados que está projetada. E de mortes idem.

E se você tiver infectado agora? Está sendo solidário de não espalhar?
Está preparado pra ser infectado? Pra ter alguém da família infectado? Sim! Seremos infectados! Estamos preparados?

O vírus mata a minoria, mas considero como o vírus da solidariedade. Imediatamente q você pensa em estar contaminado, você é obrigada a pensar no outro. Talvez como nunca tenha pensado antes.

E cada dia mais é na fé que vejo alguma paz.

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