24o dia de isolamento

Hoje foi o dia que resolvi pegar sol e tomar meu banho de mar.

24 dias sem sair de casa a não ser pra ir ao supermercado uma vez (já lamentando quando eu tiver que ir denovo!) e ir a portaria do prédio da Doia pegar alguma comidinha gostosa que ela tenha feito.

Só em estacionar o carro no calçadão, já me arrependi. Eu esperava zero carros, zero pessoas, mas tinha gente! Bastante, inclusive. Me senti péssima. Culpada! O que eu vim fazer aqui? O que tanta gente está fazendo aqui? Porque não estamos todos em casa como mandam as orientações? Lá estava a Caxias martelando minha cabeça.

Parei um pouco pra pensar e checar e eu não tava colocando ninguém em risco e não estaria me colocando também. Faz tempo que ir a praia pra mim é descer do carro sem chinelo, só de biquíni e canga, tomar banho de mar, fazer minha meditação ouvindo as ondas e voltar pro carro molhada de areai e sal. E assim seria hoje também. Então, vai!

Lamentei não ver o tio que cuida dos carros, com quem bato papo. Me senti aliviada de ver que os carros pertenciam a pessoas, em maioria, sozinhas, com suas pranchas, indo fazer algo parecido com o que eu estava fazendo: aproveitar um pouquinho o mar.

Dentro dele, ali, presente, eu e as ondas, a água quente e as espumas, o mundo parecia não ter mudado desde o último dia. Estava tudo igual.

Os cachorros estavam lá. As ondas pro surf estavam lá. Os surfistas estavam lá. A areia mais limpa, menos sujeira. O planeta tava igualzinho. A natureza tava igualzinha.

A praia com pouca gente, um ritmo diferente. Não era a balada, não tinha ostentação, não tinha caixa de som, volume alto, agitação. Por um instante, me senti incluída: pela primeira vez eu vi tanta gente no meu ritmo com a praia. Me senti parte como há tempos não sentia.

Minha mente não parou durante a meditação. Escrevi esse texto mentalmente. Descobri uma nova figura que mora dentro da minha cabeça: A que escreve. Essa moça tá sempre tomando nota, escrevendo frases de efeito, conectando palavras. Ela trabalha bastante e eu ainda não a tinha percebido, apesar de ela ser tão espaçosa. O silêncio maior da praia e a poesia do momento me fez percebê-la e foi legal conhecê-la mais de perto.

Levei os tombos corriqueiros na água, dei gargalhada de mim mesma, o biquíni quis sair, senti a água naquele modo meio esfoliante natural, por conta da chuva de manhã. Tudo igual. Tudo como sempre foi.

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